sábado, 5 de abril de 2025

RENDEZ-VOUS AVEC POL POT

A película cinematográfica de título em testilha exibe-se muito eficiente como denúncia histórica do genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja durante o governo de Pol Pot, mas mostra-se sofrível como tentativa de elucidação da história. 

Sem embargo, esse líder político autodenominado comunista empreendeu uma leitura enviesada do materialismo histórico de Marx e Engels, senão vejamos:

Concedendo mais importância às relações de produção do que às forças produtivas, bem assim empreendendo uma crítica acerba da noção de progresso ínsita ao positivismo filosófico de matriz ocidental, Pol Pot identificou no capitalismo um fenômeno tipicamente urbano, de tal sorte que promoveu um movimento de agrarização acelerada da economia, inclusive com esvaziamento das cidades e abolição do dinheiro, colimando atingir um estágio de comunismo primitivo.

Nada justifica um genocídio (decorrente de uma situação bélica permanente e paranoica no país, segundo o próprio Khmer Vermelho), mas tal crítica do progresso material propiciado pelo desenvolvimento histórico das forças produtivas não é de todo tresloucada, contando com adeptos ilustres, como Walter Benjamin por exemplo, se bem que o filme em comento furta-se a encetar tal tipo de discussão, quedando perfunctório. 

Se o progresso material certamente não é garantia absoluta de felicidade humana, máxime considerando a hodierna crise ecológica, tampouco parece exequível retroagir a um estado de comunismo primitivo. 

Bom debate que a película não efetua. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário