Rumo às Estrelas
Gostei da argumentação do último artigo do Luís Fernando, “Superata Tellus, Sidera Donat”, tanto que até fui pesquisar o significado título, que pode ser traduzido como “A Terra, superada, dá as estrelas”. A frase é de Boécio, que pelo que entendi, é um filósofo medieval, mas minha pesquisa sobre o título foi só até aí.
Eu me mexi para escrever porque o assunto abordado no artigo é algo que sempre me vem à mente, como aficionado da conquista espacial e inconformado com a finitude da humanidade, uma vez que nosso planeta inevitavelmente deixará de existir quando o sol se tornar uma gigante vermelha e seu raio se expandir até a (ou além, não sei ao certo) órbita de Marte, engolindo os planetas interiores. Obviamente, a vida neste planeta terá se extinguido muito antes disso. Esse evento, o fim da Terra, inclusive é tema do primeiro episódio da primeira temporada da retomada da clássica série britânica “Dr. Who”.
Em outras palavras, se a humanidade quiser sobreviver ao nosso planeta, terá que deixá-lo em algum momento e aí reside o grande problema. Viagens interestelares são absurdamente custosas, ao ponto de torná-las praticamente inviáveis para uma criatura viva, devido principalmente a dois fatores: as distâncias gigantescas e o ambiente extremamente inóspito do espaço. Por mais que eu me divirta com as histórias de ficção científica, em que as pessoas viajam de um planeta a outro como se fossem visitar um amigo em outra cidade, isso é pura fantasia, um conto de fadas tanto quanto as aventuras de espada e feitiçariacom ogros, dragões e meio humanos com orelhas e rabo de gato.
A menos que surja uma descoberta que revolucione completamente a física, mudando tudo o que entendemos do mundo até agora, o que não é totalmente impossível, mas bastante improvável, não há como superar a velocidade da luz. Mesmo para que um objeto massivo atinja essa velocidade seria necessária uma quantidade infinita de energia, literalmente, salvo engando da minha parte, já que escrevo isto de memória. A alternativa de dobrar o espaço, encurtando asdistâncias entre a origem e o destino também é inviável, pois seria necessário criar campos gravitacionais gigantescos, o que até o momento parece impossível.Também me parece que tais campos esmagariam ou a abalariam tudo que estivesse por perto, o que não seria tão perto assim em termos astronômicos.Considerando que a estrela mais próxima de nós, Alfa Centauro, está a quatro anos luz de distância, isto é, levaria quatro anos viajando à velocidade da luz para chegar até ela, começamos a ter uma ideia dos tempos necessários para essas viagens.
Para contornar o problema do tempo a solução que alguns propõem é a das chamadas “naves geracionais”: uma enorme nave espacial, contendo um meio ambiente auto sustentável e uma tripulação constituída por uma pequena sociedade extremamente estável em que as inúmeras gerações se sucederiam até a chegada ao destino. Uma abordagem ficcional desse conceito pode ser vista no episódio “For the World Is Hollow and I Have Touched the Sky” da terceira temporada da série original de Star Trek. Além dos enormes problemas técnicos envolvidos em criar e sustentar esse ambiente artificial, o fato dessa sociedade tripulação ser obrigada a manter um status imutável ao longo dos séculos de duração da viagem até outra estrela me parece a fórmula perfeita para criar um inferno autoritário onde qualquer manifestação de criatividade ou insatisfação ameaçaria a estabilidade absolutamente necessária para a sobrevivência de todos até o destino. Um controle rígido da natalidade também seria absolutamente necessário, o que, me parece, geraria conflitos constantes, por ir contra a natureza humana.
Porém, além do tempo, há o problema do quanto o espaço fora da Terra é inóspito à vida. Dentro do sistema solar o viajante espacial estaria exposto àsviolentas descargas de radiação emitidas pelo Sol e quando se afastasse o suficiente para se distanciar da influência do Sol, então estaria exposto ao frio extremo, próximo do zero absoluto, do espaço interestelar. Nesse vácuo gelado, também haveria uma completa ausência de recursos energéticos e materiais para manter a vida e o ambiente que sustentaria a vida. É aqui que entra a ideia sugerida pelo artigo supra citado e que há muito atrai o meu pensamento. Quem percorrerá o espaço preservando o nosso legado e o levando a outros mundos serão os nossos herdeiros, mas não de nossos corpos, mas de nossas mentes. Máquinas, androides ou não, dotadas de cérebros artificiais, inteligentes, conscientes e desprovidas das fragilidades da nossa carne, mas imbuídas de nossa razão e de nossas emoções. Emoções essas, espero, menos selvagens que as nossas, mas inevitáveis para dar a essas criaturas motivação, propósito e o ímpeto de auto preservação. Esses nossos herdeiros, resistentes às agruras doespaço sideral, talhados para sobreviver ao tempo e ao isolamento em pequenos grupos sociais, viajariam ao longo de milênios, de planeta em planeta, talvez até levando a semente da vida terrestre, o DNA de nossas plantas e animais e até o nosso próprio, para povoar ou terraformar (transformar para que fiquem como aTerra) outros planetas.
Para citar novamente a ficção, um dos inimigos recorrentes do protagonista da série britânica Dr. Who são os Cybermen, uma civilização de autômatos, que por mais que tente, o doutor não consegue destruir, pois mesmo quando ele consegue exterminá-los completamente, no que talvez seja um verdadeiro genocídio, eles reaparecem, evoluindo de outra espécie, em outro planeta, pois substituir seus corpos e mentes por equivalentes artificiais seria o caminho natural para algumas espécies inteligentes. O problema desses Cybermen é o mau hábito de invadir os planetas alheios e impor os seus modos à força.
Espero que, quando atingirmos esse estágio da nossa evolução, a inteligência artificial predominante não tenha sido a desenvolvida por estadunidenses e europeus, notórios pelo imperialismo.
Por PEDRO CREM ALVES PORTO
Aguardei ansiosamente a citação de Star Trek, e fiquei genuinamente contente que ela veio.
ResponderExcluirAgora, o último parágrafo veio para deleite do leitor. Por mais que a influência na conquista espacial, nos parâmetros que está colocada hoje, seja uma realidade na disputa geopolítica, o combate ao "imperialismo espacial", que certamente partiria dos Estados Unidos e da Europa, já se evidencia nesse artigo. Um texto de vanguarda, e revolucionário!