Titã inconteste da literatura universal, Franz Kafka descreve com linguagem burocrática, em novelas como “A metamorfose” e “O processo”, situações aparentemente absurdas que muito inspiraram outros gigantes da escrita, como o Eugène Ionesco de “O rinoceronte” e o Samuel Beckett de “Esperando Godot”.
A narrativa de Kafka, conquanto de precisão milimetricamente racional, insere seu leitor nas entranhas de um pesadelo, e nisso está sua proximidade com o Sigmund Freud de “A interpretação dos sonhos”, obra que disseca com instrumentos cirúrgicos a estrutura inteligível do pensamento que irrompe durante o sono.
Eis a questão de Kafka: elucidar racionalmente o absurdo, desvendar-lhe as razões. Pois o que aparenta ser uma quimera para o indivíduo pode talvez ser inteligível e lógico sob ponto de vista mais amplo, seja social ou histórico.
E aqui, evidentemente, entra a lógica dialética, tão cara a autores como Hegel e Marx, investigadores da inteligibilidade do tempo histórico, o qual sobrepuja, por óbvio, o indivíduo, sendo certo que lhes é cara a elucidação da racionalidade das contradições, os motores da história, no que suplantaram, sem aniquilar, a lógica aristotélica.
Talvez, portanto, todos os autores aqui aduzidos sejam tributários da lógica dialética (ou paraconsistente, como queiram), a única capaz de iluminar o absurdo aparente, as contradições do real, e nisso pode-se aventar que são todos iluministas, por mais estarrecedoras que possam soar suas obras.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
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