Alguns anos atrás, aqui em São Paulo, tive a grata satisfação e a honra de assistir ao espetáculo intitulado "Café Müller", da companhia de teatro-dança fundada por Pina Bausch, a qual falecera pouco tempo antes. Pouquíssimas vezes verti lágrimas diante de uma obra de arte, mas nessa ocasião chorei copiosamente, tal a beleza contida na capacidade estética e sintética do espetáculo.
Ora, é cediço que os cafés, em geral, são lugares públicos onde as pessoas comparecem e se reúnem para conversar, namorar, comemorar e até mesmo trabalhar, ou seja, são logradouros que cumprem o importante papel de favorecer os relacionamentos humanos e a socialização.
O Café Müller de Pina Bausch, todavia, representa a antítese dessa função social. Nele, as relações humanas são contorcidas e mesmo obstadas por uma realidade cruel que aflige a todos os indivíduos: a inafastável solidão.
Pina Bausch consegue, através da dança, exprimir exitosamente o inefável dessa realidade, a complicada tarefa, que se impõe a todos, consistente em romper o próprio casulo da solidão e estabelecer contato com outrem.
Será que, como na monadologia de Leibniz, os seres humanos estão condenados ao aprisionamento inexorável dentro de si mesmos? No Café Müller de Pina Bausch, ao menos, as mônadas procuram umas às outras, conquanto de maneira deveras conturbada.
(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira)
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