A "virada" ideológica de Jefferson Lima
Publicado originalmente em:http://www.pagina13.org.br/esquerda-2/a-virada-ideologica-de-jefferson-lima/#.VcTLnYo4-c2
Cartaz da
campanha de alistamento do movimento constitucionalista de 1932.
Se
Jefferson renova sua confiança na juventude brasileira incluindo os jovens de
1932 como referência de luta, a tão falada “virada geracional” implica uma
trágica “virada ideológica”.
Por
Rodrigo Cesar*
Na última
quarta-feira (05/08), a juventude da tendência petista Construindo um Novo
Brasil (CNB) definiu em um seminário, realizado em Brasília, seu candidato a
secretário nacional da Juventude do PT. Assim como em 2011, apresentarão
novamente Jefferson Lima como candidato, com uma diferença: desta vez, trata-se
de uma candidatura à reeleição.
Na semana
anterior (28/07), Jefferson havia divulgado um elogioso texto de balanço de sua gestão. Para um
balanço divergente, sugiro a leitura de outro texto de balanço, assinado por diversas
tendências petistas. Na opinião do secretário, o maior êxito de sua gestão
“está no conjunto de narrativas marginais, boas, ruins, ou seja, um material
vivo de todos os cantos do Brasil”.
Pouco lhe
interessa a atual situação crítica do PT entre os jovens, pois no último
período foram construídas “narrativas marginais, boas, ruins”. Seja lá o que
isso queira dizer, é isso que vale.
Pelo
visto, Jefferson dá mais importância à história que se conta (narrativa) do que
à história que acontece. Como se não bastasse, lhe é indiferente se tais
narrativas são “marginais, boas, ruins”. Todas são válidas!
Talvez
por isso ele também ache válido, no texto, fazer referências ao dia 9 de julho
como motivo para renovar sua confiança na juventude brasileira.
Cartaz da
campanha “Ouro para o bem de São Paulo”
Esta é
uma data celebrada pelos conservadores paulistas em memória ao movimento
constitucionalista de 1932, impulsionado pelas oligarquias cafeeiras e
latifundiárias em oposição à Getúlio Vargas, saudosos da política do café com
leite da Primeira República e dos bandeirantes paulistas, que no período
colonial, entre outras barbaridades, matavam, aprisionavam e escravizavam
índios.
Bastam
algumas imagens para compreendermos os significados do 9 de julho. As primeiras
referem-se à campanha de arrecadação “Ouro para o bem de São Paulo”, que
solicitava a doação de ouro, joias e artigos de valor, com direito a
certificado. Percebe-se, assim, qual era a composição de classes da base social
do movimento constitucionalista de São Paulo.
Cartaz do
movimento constitucionalista de 1932 contra Getúlio Vargas.
A segunda
é um cartaz que ilustra um bandeirante com arma em punho capturando
Vargas, que se rende. Em agosto de 1954, conseguiram o que queriam. Qualquer
semelhança com o ímpeto conservador no presente não é mera coincidência.
A
terceira é o lançamento do livro 1932: imagens de uma revolução, de
Marco Antônio Vila, que faz uma análise positiva do movimento
constitucionalista e exalta o dia 9 de julho. Na ocasião, a solenidade contou
com a presença do então governador José Serra. Para bom entendedor, meia palavra
basta.
Lançamento
do livro de Marco Antônio Vila, com a presença de José Serra.
Mas então
o que explica a referência de Jefferson à juventude no 9 de julho? O secretário
sucumbiu a importantes aspectos da ideologia dominante, como é o caso da
disputa da memória social e os valores nela inseridos.
Mas isso
também é valido para amplos setores do petismo. Verdade seja dita: Jefferson
não inaugurou o elogio ao 9 de julho entre os petistas, simplesmente reproduziu
um discurso sem compreender seu significado e medir suas consequências – o que
é grave para um militante de esquerda, especialmente para o secretário nacional
da JPT candidato a reeleição.
Em 2014,
às vésperas do Encontro Estadual do PT-SP, a executiva estadual Partido
recusou-se a retirar de sua resolução de conjuntura menções a São Paulo como
locomotiva do país, termo historicamente utilizado pelo conservadorismo
paulista e que alimenta o preconceito e a xenofobia contra a população das
regiões norte e nordeste.
Depois,
durante a campanha eleitoral, Alexandre Padilha, candidato petista a governador
de SP, gravou um vídeo
exaltando a memória do dia 9 de julho e dos jovens que inspiraram a sigla MMDC
(Miragaia, Martins, Dráuzio e Camargo). No vídeo, ele afirma que “ouvir a
história destes jovens revolucionários [!!!] de 32 era também valorizar a luta
de todos os jovens brasileiros”.
Não era e
não é!
Como tem
muita gente que esquece, é sempre bom lembrar que entre jovens há diferenças
fundamentais, há divisão em classes e há luta de classes. A juventude
representada pelo 9 de julho de 1932 não é a juventude trabalhadora, não é a
juventude negra, não são as jovens mulheres, não é a juventude das periferias e
favelas, não é a juventude do norte e do nordeste.
Atividade
comemorativa do 9 de julho dos Carecas do Subúrbio.
Pelo
contrário, a data é celebrada por jovens de entidades e movimentos
ultraconservadores, como os “Carecas do Subúrbio”, por exemplo, que tem
o integralismo, o nacionalismo conservador e o anticomunismo como ideologia.
Se
Jefferson renova sua confiança na juventude brasileira incluindo os jovens de
1932 como referência, a tão falada “virada geracional” implica uma
trágica “virada ideológica”.
Portanto,
eu não confio no projeto que ele propõe para a JPT. Ninguém que é socialista e
de esquerda deveria confiar.
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