segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Política:

A "virada" ideológica de Jefferson Lima

Publicado originalmente em:
http://www.pagina13.org.br/esquerda-2/a-virada-ideologica-de-jefferson-lima/#.VcTLnYo4-c2



Cartaz da campanha de alistamento do movimento constitucionalista de 1932.

Se Jefferson renova sua confiança na juventude brasileira incluindo os jovens de 1932 como referência de luta, a tão falada “virada geracional” implica uma trágica “virada ideológica”.
Por Rodrigo Cesar*

Na última quarta-feira (05/08), a juventude da tendência petista Construindo um Novo Brasil (CNB) definiu em um seminário, realizado em Brasília, seu candidato a secretário nacional da Juventude do PT. Assim como em 2011, apresentarão novamente Jefferson Lima como candidato, com uma diferença: desta vez, trata-se de uma candidatura à reeleição.

Na semana anterior (28/07), Jefferson havia divulgado um elogioso texto de balanço de sua gestão. Para um balanço divergente, sugiro a leitura de outro texto de balanço, assinado por diversas tendências petistas. Na opinião do secretário, o maior êxito de sua gestão “está no conjunto de narrativas marginais, boas, ruins, ou seja, um material vivo de todos os cantos do Brasil”.

Pouco lhe interessa a atual situação crítica do PT entre os jovens, pois no último período foram construídas “narrativas marginais, boas, ruins”. Seja lá o que isso queira dizer, é isso que vale.

Pelo visto, Jefferson dá mais importância à história que se conta (narrativa) do que à história que acontece. Como se não bastasse, lhe é indiferente se tais narrativas são “marginais, boas, ruins”. Todas são válidas!
Talvez por isso ele também ache válido, no texto, fazer referências ao dia 9 de julho como motivo para renovar sua confiança na juventude brasileira.


Cartaz da campanha “Ouro para o bem de São Paulo”


Esta é uma data celebrada pelos conservadores paulistas em memória ao movimento constitucionalista de 1932, impulsionado pelas oligarquias cafeeiras e latifundiárias em oposição à Getúlio Vargas, saudosos da política do café com leite da Primeira República e dos bandeirantes paulistas, que no período colonial, entre outras barbaridades, matavam, aprisionavam e escravizavam índios.

Bastam algumas imagens para compreendermos os significados do 9 de julho. As primeiras referem-se à campanha de arrecadação “Ouro para o bem de São Paulo”, que solicitava a doação de ouro, joias e artigos de valor, com direito a certificado. Percebe-se, assim, qual era a composição de classes da base social do movimento constitucionalista de São Paulo.



Cartaz do movimento constitucionalista de 1932 contra Getúlio Vargas.


A segunda é um cartaz que ilustra um bandeirante com arma em punho capturando Vargas, que se rende. Em agosto de 1954, conseguiram o que queriam. Qualquer semelhança com o ímpeto conservador no presente não é mera coincidência.

A terceira é o lançamento do livro 1932: imagens de uma revolução, de Marco Antônio Vila, que faz uma análise positiva do movimento constitucionalista e exalta o dia 9 de julho. Na ocasião, a solenidade contou com a presença do então governador José Serra. Para bom entendedor, meia palavra basta.


Lançamento do livro de Marco Antônio Vila, com a presença de José Serra.

Mas então o que explica a referência de Jefferson à juventude no 9 de julho? O secretário sucumbiu a importantes aspectos da ideologia dominante, como é o caso da disputa da memória social e os valores nela inseridos.

Mas isso também é valido para amplos setores do petismo. Verdade seja dita: Jefferson não inaugurou o elogio ao 9 de julho entre os petistas, simplesmente reproduziu um discurso sem compreender seu significado e medir suas consequências – o que é grave para um militante de esquerda, especialmente para o secretário nacional da JPT candidato a reeleição.

Em 2014, às vésperas do Encontro Estadual do PT-SP, a executiva estadual Partido recusou-se a retirar de sua resolução de conjuntura menções a São Paulo como locomotiva do país, termo historicamente utilizado pelo conservadorismo paulista e que alimenta o preconceito e a xenofobia contra a população das regiões norte e nordeste.

Depois, durante a campanha eleitoral, Alexandre Padilha, candidato petista a governador de SP, gravou um vídeo exaltando a memória do dia 9 de julho e dos jovens que inspiraram a sigla MMDC (Miragaia, Martins, Dráuzio e Camargo). No vídeo, ele afirma que “ouvir a história destes jovens revolucionários [!!!] de 32 era também valorizar a luta de todos os jovens brasileiros”.

Não era e não é!

Como tem muita gente que esquece, é sempre bom lembrar que entre jovens há diferenças fundamentais, há divisão em classes e há luta de classes. A juventude representada pelo 9 de julho de 1932 não é a juventude trabalhadora, não é a juventude negra, não são as jovens mulheres, não é a juventude das periferias e favelas, não é a juventude do norte e do nordeste.


Atividade comemorativa do 9 de julho dos Carecas do Subúrbio.


Pelo contrário, a data é celebrada por jovens de entidades e movimentos ultraconservadores, como os “Carecas do Subúrbio”, por exemplo, que tem o integralismo, o nacionalismo conservador e o anticomunismo como ideologia.
Se Jefferson renova sua confiança na juventude brasileira incluindo os jovens de 1932 como referência, a tão falada “virada geracional” implica uma trágica “virada ideológica”.
Portanto, eu não confio no projeto que ele propõe para a JPT. Ninguém que é socialista e de esquerda deveria confiar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário