Sobre a crise, as filiações ao PT e os túneis
Por: Rodrigo Cesar
Publicado originalmente em: http://www.pagina13.org.br/pt/sobre-a-crise-as-filiacoes-ao-pt-e-os-tuneis/#.VdRDOpcplXk
Na
tentativa de demonstrar que a crise vivida pelo PT não é grave, alguns
militantes e dirigentes partidários apresentam números absolutos de novas
filiações realizadas nos últimos meses. Nada falam sobre desfiliações e,
portanto, sobre o saldo final.
Os gráficos
acima, por sua vez, mostram um cenário preocupante: a mudança da histórica
curva crescente para um quadro de estagnação e, em seguida, o possível início
de uma curva descendente do número de filiados e filiadas ao PT.
Obviamente,
existe a possibilidade da oscilação negativa de 6 mil filiações entre abril e
julho de 2015 ser decorrente de fatores administrativos circunstanciais no
encaminhamento das filiações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
De acordo
com os dados do Tribunal, entre fevereiro e março de 2013, por exemplo, houve
uma queda de 69 mil filiados e, logo em seguida, registrou-se um aumento de 87
mil para o mês de abril. Igualmente, entre agosto e setembro do mesmo ano,
houve uma queda de 10 mil filiados e, logo em seguida, registrou-se um aumento
de 33 mil para o mês de outubro. Ou seja, em ambos os casos, a linha de
tendência manteve-se crescente.
Mas a
curva do presente momento é de outra natureza, não é uma oscilação brusca e
rapidamente revertida, como nos casos citados acima. A queda entre abril e
julho de 2015 sucede um quadro de estagnação que se prolongou por cerca de 18
meses. A linha de tendência não se mantém crescente.
Os dados
dos próximos meses indicarão se a queda do último trimestre
representa apenas uma oscilação no quadro de estagnação ou o início de uma
consistente tendência decrescente.
Talvez
estejamos vivendo, neste exato momento, o primeiro ponto de virada na linha de
tendência crescente das filiações ao PT em toda a sua história. Seria mais uma
evidência de que a crise atual é a mais grave e a mais profunda que o PT já
viveu. Por enquanto, é apenas uma possibilidade, entre muitas.
Contudo,
mantida a estratégia conciliatória predominante no PT, que ademais leva o
governo federal a acenar positivamente para a “Agenda [contra o] Brasil” de
Renan Calheiros, poderemos presenciar uma situação inusitada: a transição de
uma crise aguda para uma crise crônica, na qual o fantasma do golpismo daria um
passo atrás mas seguiria rondando o governo, enquanto o PT levaria a termo o processo
de brutal descaracterização como partido vinculado aos interesses da classe
trabalhadora, tendo como um dos resultados uma verdadeira
debandada das fileiras partidárias que se consolidaria como tendência difícil
de reverter.
Se isso
se confirmar, uma parte deverá sair por não ver mais no PT uma legenda
eleitoralmente viável para abrigar seus interesses fisiológicos pessoais. Seria
uma feliz depuração.
O
problema é a outra parte: a militância de esquerda que poderá sair por
estar cansada de ver nossas direções, bancadas e governos reiteradamente
capitulando e nos conduzindo ao matadouro. Seria uma triste perda.
A esta
altura, somente um cavalo-de pau poderá nos levar a um túnel cuja luz no final
seja a saída e não o farol de um trem.
* Rodrigo
Cesar é historiador e militante do PT
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