quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Análise:

Sobre a crise, as filiações ao PT e os túneis

Por: Rodrigo Cesar 
Publicado originalmente em: http://www.pagina13.org.br/pt/sobre-a-crise-as-filiacoes-ao-pt-e-os-tuneis/#.VdRDOpcplXk






Na tentativa de demonstrar que a crise vivida pelo PT não é grave, alguns militantes e dirigentes partidários apresentam números absolutos de novas filiações realizadas nos últimos meses. Nada falam sobre desfiliações e, portanto, sobre o saldo final.

Os gráficos acima, por sua vez, mostram um cenário preocupante: a mudança da histórica curva crescente para um quadro de estagnação e, em seguida, o possível início de uma curva descendente do número de filiados e filiadas ao PT.

Obviamente, existe a possibilidade da oscilação negativa de 6 mil filiações entre abril e julho de 2015 ser decorrente de fatores administrativos circunstanciais no encaminhamento das filiações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com os dados do Tribunal, entre fevereiro e março de 2013, por exemplo, houve uma queda de 69 mil filiados e, logo em seguida, registrou-se um aumento de 87 mil para o mês de abril. Igualmente, entre agosto e setembro do mesmo ano, houve uma queda de 10 mil filiados e, logo em seguida, registrou-se um aumento de 33 mil para o mês de outubro. Ou seja, em ambos os casos, a linha de tendência manteve-se crescente.

Mas a curva do presente momento é de outra natureza, não é uma oscilação brusca e rapidamente revertida, como nos casos citados acima. A queda entre abril e julho de 2015 sucede um quadro de estagnação que se prolongou por cerca de 18 meses. A linha de tendência não se mantém crescente.

Os dados dos próximos meses indicarão se a queda do último trimestre representa apenas uma oscilação no quadro de estagnação ou o início de uma consistente tendência decrescente.

Talvez estejamos vivendo, neste exato momento, o primeiro ponto de virada na linha de tendência crescente das filiações ao PT em toda a sua história. Seria mais uma evidência de que a crise atual é a mais grave e a mais profunda que o PT já viveu. Por enquanto, é apenas uma possibilidade, entre muitas.

Contudo, mantida a estratégia conciliatória predominante no PT, que ademais leva o governo federal a acenar positivamente para a “Agenda [contra o] Brasil” de Renan Calheiros, poderemos presenciar uma situação inusitada: a transição de uma crise aguda para uma crise crônica, na qual o fantasma do golpismo daria um passo atrás mas seguiria rondando o governo, enquanto o PT levaria a termo o processo de brutal descaracterização como partido vinculado aos interesses da classe trabalhadora, tendo como um dos resultados uma verdadeira debandada das fileiras partidárias que se consolidaria como tendência difícil de reverter.

Se isso se confirmar, uma parte deverá sair por não ver mais no PT uma legenda eleitoralmente viável para abrigar seus interesses fisiológicos pessoais. Seria uma feliz depuração.

O problema é a outra parte: a militância de esquerda que poderá sair por estar cansada de ver nossas direções, bancadas e governos reiteradamente capitulando e nos conduzindo ao matadouro. Seria uma triste perda.

A esta altura, somente um cavalo-de pau poderá nos levar a um túnel cuja luz no final seja a saída e não o farol de um trem.

* Rodrigo Cesar é historiador e militante do PT

Nenhum comentário:

Postar um comentário