Convenhamos que a ruína deste mundo começou quando o aspecto abstrato da mercadoria, a saber, seu valor de troca, sobrepujou o seu aspecto concreto, isto é, sua aptidão para satisfazer a necessidades humanas concretas, cabendo destacar que o valor de troca, a certa altura da história, adquire autonomia e se convola em dinheiro que, por seu turno, se metamorfoseia em capital, essa categoria econômica que representa o grau máximo de alienação exibido pelas relações de produção que os seres humanos contraem entre si, na exata medida em que encerra como escopo tão somente a valorização do valor para obtenção de lucro, sem nenhuma consideração com aquelas necessidades humanas concretas.
Tal caráter abstrato, ao máximo, do capital reflete-se hodiernamente nas variegadas manifestações da arte dita abstrata, entre as quais eu inseriria o pós-modernismo como movimento estético, que renunciou a representar a realidade concreta, contraposta ao jaez abstrato do mencionado capital.
Mas o comunismo, como movimento e tendência da história, guarda como divisa o resgate da realidade concreta mediante a reconsideração dos indivíduos concretos em sua prática social, na pretensão de exigir de cada um segundo suas potencialidades e atribuir a cada um segundo suas necessidades.
Logo, o realismo socialista de Andrei Zhdanov estava, em princípio, correto ao tentar resgatar esteticamente a realidade concreta das necessidades e potencialidades humanas, malgrado certa brutalidade de seus métodos de persuasão.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário