Devo algumas explicações preliminares sobre o singelo texto imediatamente precedente publicado neste portal eletrônico.
Enceto tal explicação admitindo que reconheço em Karl Marx o maior cientista social da história, o que faz dele um ser humano e, como tal, sujeito aos limites do próprio processo de desenvolvimento do conhecimento científico.
Nesse diapasão, faz-se mister suscitar que o próprio Marx entende que o conhecimento científico atrela-se ao movimento do pensamento que ascende do abstrato ao concreto, cabendo destacar que o concreto é síntese de múltiplas determinações, unidade do diverso.
Mas tal movimento de ascensão do abstrato ao concreto exibe-se inerente também ao próprio objeto do conhecimento científico, de sorte que na história natural, verbi gratia, as espécies biológicas mais antigas são incorporadas e superadas nas espécies biológicas mais recentes e mais complexas, sendo lícito ventilar que, nesse caso, a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco, na locução do próprio Karl Marx, admirador confesso de Charles Darwin.
No que pertine aos modos de produção que se sucedem no curso da história, há uma evidente simetria com o que acontece com a evolução das espécies biológicas acima aludida, de tal sorte que o modo de produção historicamente mais recente e complexo, o capitalista, incorpora e desenvolve as categorias econômicas que lhe antecedem, como a mercadoria e o dinheiro, na categoria econômica do capital.
Mas o próprio modo de produção capitalista exibe sua evolução histórica, e se inicialmente ele transforma a força de trabalho em mercadoria, tal força de trabalho aparece nos pródromos do capitalismo em sua forma eminentemente manual ou física, que não exige qualificação intelectual importante, podendo ser produzida no âmbito familiar sem o concurso do trabalho assalariado que engendra mais-valia.
Isto representa uma aporia lógica para a teoria marxista do valor, pois a rigor todas as mercadorias deveriam ter seu valor determinado pelo tempo de trabalho humano socialmente necessário à sua produção, o que não acontece com a mercadoria consubstanciada na força de trabalho, ao menos nesta fase histórica em que encerra jaez eminentemente manual, pois ela é engendrada no âmbito familar pelas tarefas e afazeres domésticos que não são, rigorosamente falando, trabalho assalariado, nem geram mais-valia.
Por isso Marx incorre em certa tautologia ao postular que, diferentemente das demais mercadorias, a força de trabalho tem seu valor determinado pelo valor dos meios de subsistência necessários ao trabalhador médio, uma tautologia pois o valor aparece tanto na definição como no objeto a definir, ensejando uma circularidade que compromete a consistência lógica de tal conceito.
Mas tal incursão em tautologia decorre do próprio jaez ainda historicamente pouco desenvolvido do modo capitalista de produção, e não de um equívoco de Marx, tanto que a evolução capitalista ulterior confirma e lapida a teoria marxista do valor, senão vejamos.
A hodierna revolução industrial digital introduz e entroniza o software como mercadoria principal, cuja produção demanda uma força de trabalho eminentemente intelectual que não pode ser engendrada no ambiente meramente familiar, pois demanda uma qualificação técnica que somente a escola pode oferecer, de tal sorte que, nesse caso, a força de trabalho é produzida por trabalho assalariado gerador de mais-valia, a saber, o trabalho assalariado dos professsores.
Logo, tal revolução digital confirmou a teoria marxista do valor, pois agora a força de trabalho encerra seu valor determinado precisamente pelo tempo de trabalho humano socialmente necessário para produzi-la, vale dizer, o tempo de trabalho assalariado dos professores em âmbito escolar.
Destarte, a aporia e a tautologia de Marx em sua teoria do valor eram apenas aparentes, pois o próprio objeto de sua investigação, o modo de produção capitalista, acabou por resolver tais problemas em sua evolução histórica concreta.
Karl Marx, sem embargo, era um gênio visionário.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
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