Segundo Marx, o valor de dada mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho humano abstrato socialmente necessário à sua produção, mas este trabalho humano antolha-se-nos mais afeto ao trabalho assalariado, máxime o industrial, e não ao trabalho, verbi gratia, que a família despende na formação da respectiva prole.
Por isso, Marx assevera que o valor da mercadoria consubstanciada na força de trabalho não é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção e reprodução, mas sim diretamente pelo valor de uma cesta básica composta por meios de subsistência da força de trabalho.
Haveria aí uma real aporia ou contradição na teoria marxista do valor?
É mister destacar que Marx estudou basicamente o capital da primeira grande revolução industrial, a inglesa do século XVIII, quando a força de trabalho ainda era eminentemente manual e não intelectual, com reduzida qualificação exigida, portanto mais propriamente produzida no âmago familiar e não pelo trabalho assalariado e abstratamente intelectual dos professores no âmbito escolar.
A atual revolução industrial digital, todavia, exige uma evidente qualificação intelectual da força de trabalho, máxime na produção da sua mercadoria por excelência, o software, portanto a força de trabalho, hodiernamente, exibe-se sim produto do trabalho assalariado, aquele dos professores no âmbito escolar, de tal sorte que a aporia acima descrita resolve-se, eis que agora a mercadoria consubstanciada na força de trabalho é realmente produzida pelo trabalho humano abstrato, isto é, o trabalho assalariado intelectual dos professores.
Quer nos parecer, pois, que a aparente aporia ou contradição acima aduzida torna-se evanescente à medida que a força de trabalho torna-se mais eminentemente intelectual, sendo produto do trabalho intelectual dos professores e tendo como mercadoria por excelência um produto também eminentemente intelectual, o software, bem assim um dinheiro também digital ou intelectual.
Nessa economia capitalista eminentemente intelectual, as aporias ou contradições aparentes na teoria marxista do valor tornam-se, pois, evanescentes, ou em vias de desaparecimento.
Karl Marx era, sem nenhum embargo, um visionário.
Hipóteses sub judice, para discussão.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
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