Aduzi alguns dias atrás que a vitória hodierna de Donald Trump resulta diretamente da revolução digital em curso, mas isto está apenas parcialmente correto.
Com efeito, malgrado Trump seja fruto da ascensão do Vale do Silício, ele venceu no Cinturão da Ferrugem e perdeu na Califórnia, o que impõe certa lapidação do exame aqui proposto.
Sem embargo, parece ter havido uma reconfiguração da divisão internacional do trabalho com a indústria manufatureira deslocando-se para a China e outras partes da Ásia, enquanto os Estados Unidos, com a decadência do Cinturão da Ferrugem e a ascensão do Vale do Silício, perderam competividade e vantagens comerciais no setor manufatureiro, o que pesa sobremodo na sua balança comercial.
A campanha eleitoral vitoriosa de Trump, pois, mais do que exaltar a revolução digital de que seu país é vanguarda, exibiu-se uma proposta de reindustrialização estadunidense no setor manufatureiro para reverter essa nova divisão internacional do trabalho que impõe desvantagens na balança comercial norte-americana.
Aqui no Brasil, a situação é mais complexa, pois o país desindustrializou-se, com a decadência do ABC paulista, mas não foi palco de uma revolução digital como nos Estados Unidos, pois regrediu até o predomínio econômico do setor primário da agricultura.
A reindustrialização brasileira, pois, deve ter duas vertentes: setor manufatureiro e setor de tecnologia digital.
É um grande desafio para o atual governo Lula.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
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