quarta-feira, 5 de junho de 2024

KAFKA

"Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós"

Essa sentença foi prolatada por Franz Kafka, seguramente um dos maiores escritores de todos os tempos, cujo centenário de morte foi lembrado na última segunda-feira. 

Esse mar gelado kafkiano corresponde à impotência e à falta de esperança dos seres humanos que vivem em uma sociedade que não lhes pertence, a saber, em que vivem de forma alienada e heterônoma, que lhes dirige os destinos. 

Ao compor esteticamente tal alienação em sua fragmentária obra, Kafka efetivamente serviu de machado para quebrar o gelo em nós. 

No meu humilde modo de entender, esse autor é legítimo legatário de outro machado potente: Karl Marx, outro judeu de idioma alemão, foi o pioneiro ao expor cientificamente a alienação dos homens no dinheiro (ou circulação simples de mercadorias) e no capital, formas de relações de produção que os seres humanos contraem entre si involuntariamente e mesmo contra a sua vontade, sendo impostas pelas necessidades econômicas.

Mas Kafka, um pessimista, também asseverava que neste mundo há muita esperança, mas não para nós. 

Marx, mais otimista, acreditava na necessidade histórica de superação do capital e, portanto, do fenômeno da alienação, mas olhem: essa superação deve ser obra dos próprios seres humanos, sob o império da classe social do proletariado, portador de uma nova sociedade não fraturada em classes sociais. 

Dois gigantes, enfim. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário