sábado, 22 de junho de 2024

BERNARDO BERTOLUCCI

Bernardo Bertolucci foi um cineasta italiano de grande envergadura e sucesso no mundo inteiro, mas hoje foi cancelado por acusações de ter filmado uma cena de violência sexual real, em que a atriz Maria Schneider teria sido estuprada. 

Como dizem o franceses, c´est dommage.

Realizou obras primas como 1900, O céu que nos protege e O último imperador, o qual recebeu nove Oscars da Academia de ciências cinematográficas dos Estados Unidos. 

Mas o seu projeto mais ambicioso, em que a cena de estupro real acima mencionada foi filmada e integrou a montagem final da película, foi O último tango em Paris, de 1972. 

Não fosse pela cena de estupro que o integra, esse filme provavelmente figurasse entre os maiores já realizados em todos os tempos. 

Com efeito, Louis Althusser postulava que somos todos meros vetores de determinações estruturais do capital, ao passo que hodiernamente o biólogo Robert Sapolsky aniquilou em sua obra a existência do livre arbítrio entre nós. 

A individualidade, pois, foi colocada em xeque mate, de tal sorte que não nos seria facultado usar nomes individuais para distinguir nossa subjetividade individual. 

Sem embargo, na produção e reprodução de sua vida material em sociedade, os seres humanos contraem entre si relações de produção heterônomas que escapam ao seu controle e volição, dirigindo-lhes o destino de forma alienada e reificada; por outro lado, na reprodução dos próprios indivíduos humanos, a sexualidade impõe suas determinações, a começar pela definição de macho e fêmea.

Destarte, Marx e Freud foram a dupla que moldou definitivamente nossa percepção da produção e reprodução da vida material humana, seja no campo do trabalho, seja no campo da reprodução sexuada, de tal sorte que somente nos é dado usar dois nomes de cada vez, a saber, ou o binômio capital e trabalho, ou o binômio macho e fêmea e suas derivações.

O mencionado filme mostra um casal que não se identifica individualmente, malgrado a atração sexual que os une, e quando se identificam finalmente, parecem mais sombras dançando uma coreografia preconcebida como no tango. 

Mas a cena de estupro maculou toda a película, que atualmente foi colocada no ostracismo. 

O que teria conduzido Bertolucci a filmar e aproveitar essa violência sexual, não sei dizer, mas me parece lamentável. 

Enfim, é uma pena...





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

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