quarta-feira, 25 de junho de 2025

A queda tendencial da taxa social de mais-valia

 Consoante a fórmula da taxa social de mais-valia (TSMV), expressa pela razão entre o tempo médio de vida laboral da classe trabalhadora (TVL) subtraído pelo tempo médio de escolaridade (TE), e este próprio tempo médio de escolaridade — isto é, TSMV = (TVL - TE) / TE —, pode-se inferir uma tendência estrutural à queda dessa taxa ao longo do desenvolvimento capitalista contemporâneo.


Com a ascensão da revolução digital e a crescente centralidade da força de trabalho intelectual, o capitalismo exige níveis cada vez mais elevados de qualificação e especialização. Isso se traduz, objetivamente, na ampliação do tempo necessário à formação do trabalhador — o que, na fórmula acima, implica no crescimento de TE.

Dado que o numerador (TVL - TE) cresce mais lentamente do que o denominador (TE), o valor da taxa social de mais-valia tende a diminuir. Essa dinâmica revela uma contradição imanente: ao mesmo tempo em que o capital demanda trabalhadores mais qualificados, o processo de sua formação retarda a entrada no ciclo produtivo e reduz o tempo efetivo de extração de mais-valia ao longo da vida laboral.

Assim, o próprio avanço das forças produtivas, especialmente sob o signo da digitalização e da economia do conhecimento, conduz a uma erosão da taxa social de mais-valia, evidenciando os limites internos da valorização capitalista baseada na exploração do tempo de trabalho. Trata-se de uma aporia do capital: a intensificação da qualificação reduz, paradoxalmente, a base temporal da exploração.







Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

2 comentários:

  1. Uma boa hipótese, coerente com a queda tendencial da taxa de lucro descoberta por Marx, mas atualizada para a atual fase da produção capitalista

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